as palavras incríveis da Sally Rooney

Foi no início desse ano quando eu rolei o feed no instagram e vi uma foto da incrível autora e booktuber, Pam Gonçalves, fazendo tudo menos economizar palavras para falar de um romance diferentão que entrou para a lista de favoritos dela.

Em um único post eu fiquei determinada a ler Pessoas Normais, da Sally Rooney, e ainda bem que eu fiz, mas eu não estou aqui para falar disso. Eu vim enaltecer a escrita brilhante da autora e porque isso a torna tão diferente de tudo que encontramos no mercado.

Sally Rooney nasceu na Irlanda e se formou em letras pela universidade de Trinity, em Dublin. Também foi participante do grupo de debate da universidade, que é conhecido por um dos meios mais rigorosos em termos de discussão do país todo. 

Aliás, ela fez questão de incluir o curso de Letras, a universidade, e o time de debate em que estudou no seu romance “Pessoas Normais”, os transformando em cenário para a narrativa, bem como para acrescentar profundidade em seus protagonistas, Marianne e Connell, pois estes frequentam a escola e os grupos mencionados.

Quando descobri que os personagens estudaram e participaram da mesma universidade em que a autora, entendi a maestria com que as descrições são feitas, justamente porque foram vivenciadas pela autora. Me deparando com essa informação, me pergunto se a autora quis mostrar frações de si mesma nos seus protagonistas, e até onde eu estava lidando com uma história de ficção.

Seus dois romances, “Conversas Entre Amigos” e “Pessoas Normais”, ambos publicados no Brasil pela Companhia das Letras, definitivamente não são leituras leves. 

Temas como relações familiares, depressão, sexo, submissão, jogos de poder e pressão da sociedade são abordados com tanta precisão que parecia que a autora descrevia justamente o que eu pensava, mas não sabia como colocar em palavras, e foi aí que eu entendi que não estava lidando com uma escrita convencional e rasa quando se tratava de Sally Rooney... era como nada lido antes.

Confira a resenha de Conversas Entre Amigos aqui!

Buscando por opiniões de outros leitores, encontrei algumas pessoas dizendo que a autora escreve de maneira crua e melancólica, com situações e personagens tóxicos e humilhantes, o que “problematizou” suas histórias. Tentei olhar para esses comentários como algo negativo, mas não tive sucesso, pois entendi justamente a mensagem que Sally queria passar, mostrando personagens com tais traços. 

Outras pessoas criticaram seu segundo romance, Pessoas Normais, pela falta de um plot, alegando ter tornado a história cansativa e lenta, como se estivessem percorrendo um caminho sem saber reconhecer o destino final, e eu não poderia discordar MAIS. 

Sally trouxe uma realidade comum de poucos anos de vivência de duas pessoas comuns, e não precisou de um plot para ter emoção e curiosidade com o que vem a seguir.

Sua narrativa é bastante elaborada e visual, é possível ver, sentir e ouvir todas as suas descrições, o que eu acho um bônus gigantesco. Inclusive, senti familiaridade indescritível ao assistir à adaptação de seu livro pela Starz Play, com Normal People. A série foi facilmente adaptada e montada, e parecia que eu estava lendo o livro todo de novo.

Indico as obras de Rooney para pessoas que gostam de uma narrativa mais melancólica e com personagens profundos, mas já aviso para não esperar uma história mirabolante cheia de coisas e diálogos improváveis de acontecer na vida real. É tudo muito crível e bonito, justamente por ser tão inesperadamente normal.