Talvez Você Deva Conversar com Alguém | Lori Gottlieb


Você já terminou de ler algo e pensou, com toda a certeza do mundo, que vai não só carregar a história dentro de si para sempre, mas recomendar para absolutamente qualquer ser humano que passar por seu caminho?

como criar o cenário clássico da sua história preferida

 


Quão longe eu preciso ir para ir longe demais?

olhe nos meus olhos, sustente meu olhar, e Me Chame Pelo Seu Nome

 



A perspectiva dessa história de amor era tudo o que a Isabelli de 2021 queria, mas eu ainda estava em 2017 quando comprei esse livro, então eu li 30 páginas e fiquei entediada.


Aqui vai um brinde a mudança de estações, porque hoje, cinco verões mais tarde, a premissa de um breve e intenso romance entre um adolescente um pouco maduro demais para a idade e um homem ligeiramente vai velho em uma pequena cidade da Itália tem muita chance de me fazer gastar o resto da tinta da minha caneta para grifar os diálogos.


A história é sobre família, compaixão, e sobre aceitar as mudanças que alguém pode causar em vocêÉ um amor de uma vida inteira de uma pessoa para outra.


O livro é uma poesia constante, e a maneira que o autor conseguiu retratar a obsessão, intensidade e insegurança de uma pessoa de 17 anos para lidar com o amor e a autodescoberta foi lisonjeadora.


Como uma jovem de recentes 22 anos que eu sou, por muitas vezes eu me irritei com a forma superior e esnobe que os adultos costumavam tratar as angústias de quando éramos mais novos, como se fosse algo supérfluo ou besta.


Pois eu digo que gostaria de sentir a vida com a mesma intensidade que eu sentia com 17 anos, e André Aciman foi brilhante ao pintar o retrato do jovem Elio e de transparecer suas emoções tão vibrantes e profundas.


Passado durante os anos 80 em um verão italiano que parecia interminável, a interação, amizade e amor de Elio e Oliver são banhadas em uma sensualidade sofisticada.


Perlman, um professor americano de antiguidade clássica, mora com sua esposa Annella em uma cidade rural no interior da Itália junto com seu filho Elio, um adolescente de 17 anos solitário e extremamente talentoso, que passa seu tempo transcrevendo e compondo variações de música no piano.


Não vou mentir, fiquei com inveja de morar em uma casa com uma família tão culta, onde todos falam inglês, francês e italiano. Aqui em casa a gente mal mal fala português direito. Enfim, não vem ao caso.


O foco da história é em Elio e em sua angústia fervescente. Ele se derrama em livros e se enfurece pela casa enorme enquanto o longo e quente verão começa, rabugento e meio mal humorado, sem saber o que fazer consigo mesmo ou com sua sexualidade sem forma.


Seu senso de incompreensão e sentimento de impotência por sempre ser visto como “a criança” são claros durante o livro, e o fato de não conseguir se conectar muito bem com os demais jovens da cidade, o deixa sempre com um ar solitário, o que torna o livro muito mais especial, na minha opinião.


Todos os anos, seu pai convida um estudante da universidade para passar o verão com a família e ajudá-lo nas pesquisas, e naquele ano é o escultural Oliver, com seu jeito americano, extra confiante e seguro em sua própria pele, que se torna muito querido rapidamente por todos.


O que é tão incrível é o conceito de lazer que é atrelado ao prazer e a pura despreocupação.


Ninguém parece ter muito o que fazer em termos de trabalho, apesar das referências do Oliver que está escrevendo um manuscrito e traduzindo peças do Italiano para Inglês, mas ele ainda faz essas coisas na beira da piscina, empapado de protetor solar e um copo de limonada do lado.


O fato de eu ter lido esse livro nas minhas férias em meio a um verão na beira da praia da minha também cidade pequena meio que rural, me deixou ainda mais apaixonada.


As pessoas tomam sol, param impulsivamente o que quer que estivessem fazendo para nadar, comem sem pressa nenhuma no quintal de casa, passeiam de bicicleta até a cidade para beber em bares ou se reúnem para jogar tênis.


Quase como uma história sem plot, é um eterno momento em que nada está acontecendo mas tudo está acontecendo ao mesmo tempo, sabe?


Elio e Oliver chamam a atenção um do outro com olhares, provocações sarcásticas e interações no andar de baixo da casa, nos corredores ou em seus quartos que são separados somente por um banheiro em comum, e eu juro, dá pra sentir o ar vibrando com cada bilhete trocado. Cada carícia casual. Cada “como você sabe de tanta coisa?” perguntado e com “eu não sei de nada que realmente importa, Oliver” respondido.


Ambos os personagens se envolvem com mulheres no decorrer da história, mas a cada página virada você percebe o destino que esse caminho vai levando.


Mas a estrela do livro mesmo foi o pai do Elio, que entregou um discurso de sabedoria, compreensão e apoio ao filho que eu só consigo enxergar como bondade. Mais ainda, como bondade moral.


Quase como se ele estivesse falando com o filho como gostaria que tivessem falado com ele, e essa foi a chance que o universo lhe deu de reparar um trauma antigo.


Vocês dois tiveram uma amizade muito bonita. Você é esperto demais para não saber o quão raro é e o quão especial é o que vocês dois tiveram. O que vocês tiveram não tinha nada a ver com inteligência. Ele era bom. E vocês dois tiveram sorte de terem se encontrado porque você também é bom.


Quando você menos espera, a natureza tem maneiras astutas para encontrar nossos pontos mais fracos. Apenas, lembre-se de que eu estou aqui. Agora, você pode desejar não sentir nada. Talvez nunca tenha desejado sentir algo. Mas sentir algo, você obviamente sentiu. Vocês tiveram uma amizade linda. Talvez mais do que amizade. E eu o invejo. No lugar de onde eu vim, a maioria dos pais esperaria que tudo passasse. Eu não sou esse tipo de pai.


Nós arrancamos tanto de nós mesmos para nos curarmos mais depressa das coisas, que ficamos esgotados perto dos 30 anos. E temos menos a oferecer cada vez que começamos algo novo com alguém novo. Mas, se obrigar a ser um insensível, assim como não sentir coisa alguma, que desperdício! E direi mais uma coisa que esclarecerá melhor. Eu posso ter chegado perto, mas nunca tive o que vocês dois tiveram. Algo sempre me detinha ou ficava no caminho.


Como você vive sua vida, é algo de sua conta. Lembre-se que nosso coração e nosso corpo nos são dados apenas uma vez. E antes que perceba, seu coração estará esgotado. Quanto ao seu corpo, chegará a um ponto em que ninguém vai querer olhar para ele, muito menos chegar perto dele. No momento, você sente tristeza, dor… Não as mate. Muito menos a felicidade que você sentiu.


A história tem uma qualidade tão palpável! As descrições de lugares, texturas de roupas, sabor das bebidas, até mesmo a textura das cascas das frutas, tudo é extremamente sensorial, e eu vangloriei cada palavra de cada página, e depois cada cena de cada minuto do filme.


Outra obra prima!


A paixão e o drama são expressos em diálogos e trilha sonora, mas também nas texturas vibrantes e íntimas que envolvem os personagens. Como eu disse, tudo muito palpável.


Eu consegui sentir a frieza do mármore, a sensação do suco das frutas que escorrem no queixo quando você dá uma mordida empenhada, a sombra e luz, o brilho de suor nos atores. O livro e o filme tornam o olhar quase tátil, meio que te convidando a acariciar as páginas e a tela.


Recomendo muito você ler antes de assistir ao filme, mas ambos são excelentes em sua própria categoria!


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Boa leitura <3



como a leitura mudou a minha vida

 



Eu gosto de pensar que eu leio desde que me entendo por gente, mas às vezes eu nem me entendo por gente ainda. Efeito colateral de ter quase 22 anos, eu acho.


De qualquer forma, a leitura é muito mais que meu refúgio, mais que meu passatempo para quando eu estou entediada e ainda mais do que fonte de conhecimento.


O hábito da leitura é parte de quem eu sou desde que a biblioteca da escola me cadastrou para levar gibis da Turma da Mônica para casa, na primeira série.


E digo mais, incentivar pessoas a conhecerem a magia da leitura é um dos meus maiores prazeres. Eu falo isso porque eu consigo identificar 4 pilares que o hábito de ler me trouxe ao longos dos anos, e saber que alguém pode ter a vida transformada assim como eu tive a minha, é combustível suficiente para mim.


Aqui estão 4 motivos e exemplos de como a leitura mudou a minha vida, e eu espero que te inspire de alguma maneira.


1) aprendi a entender e processar meus sentimentos


Como uma pessoa que ainda não viveu o bastante nessa Terra (oi, eu nasci em 2000), mas viveu o suficiente para experimentar um pouco da angústia que a existência humana e o amadurecimento pode proporcionar, ler livros me ajudou a processar meus sentimentos e ter clareza para lidar com minhas aflições.


Lembro da primeira vez que eu li “Uma Vida Pequena” (da autora Hanya Yahagihara), e ela descreveu uma cena onde um dos personagens se comparava com os amigos e com a naturalidade que eles aproveitavam o que a vida lhes ofereciam, sem pensar demais sobre o prazer de desfrutar de algo que você talvez não mereça.


Lembro que li esse parágrafo várias vezes, marquei, e um ano mais tarde levei o tópico para discussão na minha sessão de terapia!


Ler as angústias, vitórias e melancolias de outras pessoas (ou melhor, de outros personagens), me ajuda a identificar as minhas próprias, e isso é um privilégio do mundo literário.


2) elevou a minha autoestima - não ao ponto de ser insuportável, pode ficar de boa


O complexo de Deus é algo para se tomar muito cuidado, mas não sou capaz de não me sentir orgulhosa ao notar a minha habilidade em conversar sobre tantos assuntos diversos, graças ao hábito da leitura.


A verdade é que a leitura é uma fonte inesgotável de conhecimento, seja em um livro de autoajuda, numa ficção histórica, ou em um romance sessão da tarde. Sempre há algo novo para aprender, duvidar ou enxergar a situação por um ponto de vista diferente.


3) me tornei uma pessoa melhor - mais compreensiva e empática


Alguns livros têm o poder de despertar sentimentos e desenvolver a empatia. E não só isso, mas também a habilidade de ver diferentes perspectivas de uma mesma história, e inspirar o leitor a correr atrás de seus sonhos (talvez um em comum com o personagem, inclusive).


Mesmo que seja fictício, a leitura nos conecta com a realidade de outro alguém e podemos entender o que é estar na pele daquela pessoa.


Me identificar com alguns comportamentos e valores fez com que eu transportasse para a vida real a mesma gentileza que eu tinha para entender personagens. Até porque, querendo ou não, todos estão vivendo uma história única.


Todos nós somos personagens de várias histórias, tanto protagonistas quanto secundários, e saber disso traz à tona a capacidade de se solidarizar com vivências distantes da nossa realidade.


4) nós, leitores, somos mais criativos


Bom, não sei se isso é de conhecimento geral, mas achei legal trazer um tópico para enaltecer a criatividade que a leitura dá ao leitor.


Ler histórias potencializa a criatividade na hora de ter ideias, resolver problemas e criar algo novo, e esses são só alguns exemplos da magia da construção de histórias.


Diferente de filmes e séries, já que esses contam com cenários, atores e trilhas sonoras que reforçam o sentimento a ser transmitido, a leitura te leva para um mundo invisível.


Você imagina cenas, momentos e até aparências de personagens. Você cria outro mundo dentro do seu próprio universo, como se fosse uma subpasta, de acordo com o que você já viveu e leu, e isso é um baita estímulo para a criatividade e imaginação.


Essa é a sua deixa para priorizar a leitura em 2022! E lembre-se: ler é um hábito que precisa ser estimulado.


Tudo se cria. Tudo é história.





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