o poder de Conversas Entre Amigos | Sally Rooney

Quando leio as frases certeiras da Sally, tenho a impressão que de as cenas descritas possuem um tom azulado e gosto amargo, e não me refiro somente à Conversas Entre Amigos, também atribuo Pessoas Normais a esta categoria. 

A tristeza e a solidão se tornam familiar a meros 5% da leitura, quando pego meus sentimentos inconscientes perfeitamente comportados em frases bem específicas. Me senti vista e identificada conforme mergulhava na personalidade de Frances e me deparava com a linha de pensamento sutilmente (descaradamente) depressiva e dependente de aprovação alheia. 

Frances, uma estudante de vinte e poucos anos que vive em Dublin, é escritora e apresenta em público suas peças de poesia com Bobbi, sua ex-namorada e melhor amiga. Bobbi é mais comunicativa e de personalidade mais marcante do que Frances. Quando Melissa, uma fotógrafa, se aproxima de ambas para oferecer um perfil em uma renomada revista, elas aceitam de bom grado.

Enquanto o encanto de Bobbi por Melissa aumenta, Frances se aproxima pouco a pouco de Nick, o marido de Melissa que é ator e não muito bem sucedido, e a relação de poder que se estabelece entre os quatro se torna cada vez mais complexa.

Discordo daqueles que pensam que o livro se trata de apenas de “Conversas Entre Amigos” ou de um romance extraconjugal qualquer, pois diversas vezes a autora aponta a toxicidade dos personagens e das situações travadas entre eles, bem como a banalização de cenas emocionalmente cruéis. 

Este é inteiramente sobre a personalidade depressiva, dependente, autodestrutiva e de baixa autoestima da Frances, e não precisa ser um gênio para entender isso. É por conta disso que tudo que acontece ao seu redor é lícito em sua ilicitude, uma vez que ela permite que algo proibido seja feito, e ouso dizer que há uma certa beleza em sua tristeza, por mais cruel que isso seja. 

No final das contas, todos os personagens dos os livros da Sally deviam fazer terapia.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a descrição dos personagens coadjuvantes pelo ponto de vista da protagonista, a qual caracterizava todos com um traço cruel e superior a ela. Aos olhos do leitor, Frances era incapaz de fazer novas amizades sem se rebaixar em busca da atenção delas. 

Detesto dizer que me encontrei em várias situações do livro, mas alivio a minha barra porque é meio impossível não se identificar com a apatia dos personagens. A leitura é mais que válida e nenhuma perda de tempo!