Esse livro definitivamente não faz parte dos que chamam
minha atenção, e eu não digo isso só pela capa e pela premissa, mas
principalmente por ser categorizado como ficção científica. Tenho dificuldades
com esse gênero e foi somente no segundo semestre de 2020 que decidi dar uma
segunda chance.
E ainda bem que eu fiz.
Conheci o título por
meio da lista de 30 antes dos 30, da Pam Gonçalves, autora em quem confio na
indicação quase de olhos fechados, já que nunca falhou comigo antes.
O que me
convenceu a ler Flores Para Algernon foi ver a Pam em prantos nos stories e no YouTube, além de ter um leve pé na ficção científica e o resto do corpo
mergulhado no drama, grande vantagem, já que estava disposta a sair da minha
zona de conforto.
Outro ponto a seu
favor, sendo que este só descobri ao estar imersa nas páginas, é que é uma
grande lição e estímulo à empatia, um tema que se tornou extremamente sensível
para mim desde que finalizei a leitura de Uma Vida Pequena, da Hanya
Yanagihara, que deixou cicatrizes permanentes no meu acervo literário.
Flores Para Algernon
conta sobre Charlie Gordon, um homem na casa dos 32 anos, portador de
deficiência intelectual, que não foi diagnosticada em nenhum momento da
história, até porque estamos falando sobre um livro publicado nos anos de 1959.
Tendo em vista que o li em pleno 2020, me deparar com a banalidade do termo “retardado
mental” foi bem incômodo e despertou algo frio no estômago, justamente por ser
um termo ofensivo e retrógrado.
Charlie apresenta uma
enorme deficiência relacionada à compreensão e percepção das coisas à sua
volta, tendo muita dificuldade de aprendizado, de memória e, principalmente, de
reconhecer situações cruéis, maldosas e sacanas, coisas que percebemos nos
primeiros 10% do livro, já que é narrado em formato de relatório de progresso,
quase como um diário.
Aliás, achei esse um
ponto sagaz que demostra a habilidade com escrita e imersão no personagem que
são entregues na performance do autor, pois torna-se clara a evolução de
Charlie, ao passar por uma cirurgia experimental, cujo intuito era deixá-lo
mais inteligente, justamente porque ele mesmo escreveu seus relatórios de
progresso.
A chave da história é
que Charlie foi o primeiro humano submetido a uma cirurgia no cérebro, a qual
não só “curaria” seu “retardo mental”, mas o deixaria mais inteligente que a
maioria das pessoas “normais”.
Assim, em seus
primeiros relatos, nos deparamos com frases simples, curtas e repletas de erros
de gramática, além de comprovar sua inocência quando se via no meio de pessoas
que tiravam sarro de si, e se aproveitavam de sua deficiência. Todavia, com o
passar do tempo após a cirurgia, nós, leitores, vemos um Charlie completamente
diferente, cuja linha de raciocínio ultrapassa gradativamente a de todos à sua
volta.
O sucesso atingido pelo
procedimento cirúrgico me deixou quase que incomodada, pois é nitidamente cruel
fazer com que o ser humano evolua mentalmente, e continue emocionalmente
“retardado”. Foi agonizante ler Charlie relatar sobre conflitos de sua
infância, lidar em terapia com o abandono de sua família (a qual ele sequer
lembrava da existência antes da operação), enquanto se gabava de aprender em
dias o que pessoas levavam anos.
Outro ponto bastante
sensível foi perceber que Charlie era completamente invalidado como ser humano
antes de ser “inteligente”, de forma que o cientista responsável frequentemente
se gabava de como ele não era nada antes do experimento, ficando diversas vezes
ressentido por não ser reconhecido como um senhor ou mestre por Gordon.
Ora, é claro que por
mais incrível que tudo tenha sido, não cabe a ninguém tratá-lo como um animal
de laboratório, o que desafia a crença de que alguém com Q.I abaixo de 100 não
mereça consideração.
Enfim, uma das grandes
lições do livro é que inteligência não é, por si só, suficiente quando você não
se desenvolve emocionalmente, mostrando quão importante o amor físico é, e quão
necessário é para nós estarmos nos braços do outro, dando e recebendo.
O livro é excepcional
em vários aspectos, tanto por sua mensagem quanto por sua maestria em navegar
entre a ficção científica e drama. Gostaria de poder forçar todo mundo a lê-lo.
Ah, te entendo completamente quando diz que queria forçar todo mundo a ler haha e entendo bem o porquê, nem li o livro mas já vi que é extremamente emocionante. Eu amo ficção científica, e esse já estou apostando que irá ficar marcado. Sua resenha está incrível, tão bem detalhada. Acredito que vou chorar muito quando ler esse livro, do jeito que sou sensível rs'
ResponderExcluirJardim de Palavras
Obrigada pelo elogio, Melissa! Espero que tenha uma experiência tão incrível quanto eu com essa leitura. Abraço!
ExcluirOi, tudo bem? Particularmente gosto bastante de ler ficção científica. Este livro eu não li, mas já me interessei por lê-lo futuramente. Sua resenha ficou incrível, parabéns! Que bom que você deu a chance ao livro e não se decepcionou. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
E aí, Luciano! Definitivamente lerei mais livros do gênero, se tem uma coisa que eu posso falar é que não fiquei decepcionada! O próximo da lista de ficção é "Jogador Número Um". Qual livro você me indica?
ExcluirOi Isa, fiquei encantada em ler sua resenha e emocionada também, mas não leria este livro no momento sabe.
ResponderExcluirApesar disso fiquei comovida pela história de Charlie, parabéns pela resenha, transpareceu toda a emoção!
Beijos Mila
Daily of Books Mila
Obrigada pelas palavras doces, Mila!
ExcluirRespeitar nosso próprio tempo é algo muito importante, fico feliz que você tenha tamanha maturidade para lidar com essas consequências. Apesar disso, espero que dê uma futura chance ao Romance/Ficção/Drama e que sua experiência seja incrível e amadurecedora, assim como foi comigo.
Abraço!
Oi Isa,
ResponderExcluirConfesso que não conhecia o livro e assim como você não é um gênero muito familiar para mim.
Mas a premissa desse livro é ótima e fiquei bem curiosa para ler.
Dica anotada!
Bjs e uma ótima noite!
Diário dos Livros
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Oi, Jé!
ExcluirJá tô feliz que a dica foi anotada hahahaha
Espero que possa dar chance a ele no futuro! Abraço!
Oi Isabelli,
ResponderExcluirNossa, está todo mundo elogiando e indicando esse livro! Fico até curiosa!
Vou ficar de olho nele nesse final de semana de promoções da Amazon. Parece ser sensacional!
beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Meu sobrenome devia ser promoção da amazon hahahahahaha
ExcluirEspero que encontre! Beijos!
Eu conheci esse livro há pouquíssimo tempo, por uma amiga, que me incentivou a fazer uma leitura coletiva. Pretendo começar esse mês ainda, mas já estou com certo "medinho" do que vou encontrar. Pelo que você falou, sairei da minha zona de conforto total, já que a ficção científica é deixada de lado, para dar lugar ao drama. Mas espero aprender boas lições com essa leitura.
ResponderExcluirBjks!
Mundinho da Hanna
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Ei, Hanna!
ResponderExcluirComo eu disse na resenha, creio que esse tá muito mais pro lado do drama do que da ficção! Mesmo assim, pode ter certeza que sairá da sua bolha!
Espero que goste tanto quanto eu. Abraço!