Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo | Benjamin Alire Sáenz

Algumas memórias jamais irão se extinguir do Seu Universo. Elas deixarão pegadas de nostalgia para uns, cheiros característicos para outros e regras diferentes de como viver a vida para Aristóteles e Dante. Às vezes, essas mesmas memórias se tornam segredos.

Veja bem, descobrir os segredos do Universo – tanto o seu quanto o de outra pessoa - é uma tarefa meio que impossível. Por que nós rimos? Por que nos sentimos sós? Por que somos tristes e confusos? O que é essa coisa estranha inexplicável chamada desejo? É incrível o fato de que sentenças exemplificando sensações tão comuns para nós seja tão difícil de explicar porque ou como as sentimos. Acho que isso é mais um segredo do Universo. 

Nossa realidade fictícia de hoje vai tentar descrever os dois protagonistas da obra escrita por Benjamin Alire Sáenz, publicada pela editora Seguinte, e como um desvendou alguns segredos do universo do outro através do amor e da amizade. 

Pra início de conversa, ter momentos introspectivos e solitários é tão comum pra Ari que nem sei. Ele é o nada típico garoto de 15 anos que vai dormir desejando que as coisas fossem diferentes quando ele acordasse. O garoto que ouve tudo o que as pessoas têm para dizer, mas tem a plena certeza que nem sempre o que elas falam é verdade. Ari é aquele garoto cheio de cicatrizes – no coração, na cabeça - por conta de todo o mistério à sua volta, bem como os que moram dentro dele. Ele é extraordinário... completamente fora dos parâmetros deste planeta. 

E aí nós temos o Dante, que fala, fala e fala, e chora um pouco. Chegou a vez dele de mostrar para Ari que um homem era capaz de viver sem maldade dentro de si. Chegou a vez de Dante de se tornar mais um mistério em um mundo cheio de mistérios. Dante é chama eterna, otimismo, alma dedicada, luz. Péssimo em controlar o riso que morava dentro dele, é leitor fiel e amante da arte. Seu mundo tinha ordem. Ele trouxe ordem pro mundo de Ari.

Naquele verão os dois compartilharam livros, sonhos, pensamentos, risadas, segredos – e assim redefiniram completamente o universo um do outro. Dante sabe nadar, Ari não. Dante é extrovertido, confiante e sente demais. Ari é místico, duvida de si mesmo e pensa demais. Uma combinação tão perigosa, mas que deu tão certo. 

A história se passa em El Paso, Texas, no ano de 1987 mas não foca muito no tempo, aliás, não foca no tempo alheio, porquê o único tempo que importa é aquele em que Dante e Ari estão juntos, tempo este que nunca parece ser suficiente. Já se sentiu assim com alguém? É extraordinário, certo? Eu sei. Os dois sabem também. 

Enfim, voltando pra resenha: temos que concordar que ter quinze anos é uma grande tragédia, com quinze anos nós não somos nem considerados gente ainda e isso é uma bosta. Insegurança, medos e dúvidas sobre quem somos e quem deveríamos ser faz parte de ter essa idade. Quem me contou isso foi Aristóteles e a única pessoa que discorda disso é o Dante.

Os dois se conheceram na piscina comunitária da cidade em que moravam, lugar aonde Ari estava boiando quando conheceu o outro protagonista, que o ensinou a nadar e viraram amigos. Isso aí, bem do nada mesmo. Os dois são descendentes de mexicanos, e algo que me chamou muita atenção no livro, além da escrita maravilhosa, foi a quantidade de cultura que conseguimos apontar e os aspectos sociais mega interessantes.

O título do livro faz total sentido e é impossível deixar isso não mencionado nesse cantinho do Fantasma Literário. O segredo em questão é a descoberta das relações humanas, como funcionamos individualmente e em conjunto, principalmente nessa fase da adolescência, nessa descoberta da vida adulta, das responsabilidades, de quem somos e o que esperamos nos tornar daqui pra frente. Dante tem um papel essencial para Ari, de forma que ele deixa tudo mais leve, e de como ele transfere uma coragem fazendo que o menino que antes achava que jamais faria parte deste mundo, acaba se enxergando como um ser social. 

Um garoto como Dante, com um jeito tão sensível de ver as coisas, não deveria ocupar o primeiro lugar das pessoas que falam e o Ari escuta, muito menos de desconstruir tudo aquilo que ele havia imposto e decidido. Mas foi ele. Dante foi o plot twist que todos procuramos em nossas vidas. Dante é aquela música que nós ouvimos e não conseguimos evitar de lembrar de alguém, enquanto Ari é aquela poesia que lemos e não entendemos nada de primeira – nunca iremos. Mas claro, as palavras ficam diferentes quando passam a morar dentro de você. Talvez se soubéssemos as palavras certas ou a língua certa. Quem sabe. 

Por toda a juventude nós procuramos algo que nem sabemos o que é. Talvez todos nós desejamos muito mais do que podemos ter. Todos desejamos descobrir nossos próprios segredos do nosso próprio universo.