Simon vs. A Agenda Homo Sapiens | Becky Albertalli

PARA: fantasmaliterario@blogspot.com

DE: Isabellimarino2000@gmail.com

ASSUNTO: Estardalhaços necessários.

 Caros leitores,

Tem algo sobre esse livro que me deixou um tanto abalada. Não tenho certeza ainda se é o fato de ter me identificado com o Simon em vários aspectos, se é o fato de Becky Albertalli escrever livros da mesma maneira que Bryan Adams canta "Heaven", ou se é o fato da Intrínseca sempre me ter como refém dos livros propriamente publicados.

Pode ser algo relacionado com a capa toda vermelha e respingada de tinta com uma pegada bem nerd também.

OK, há a possibilidade de ser tudo isso junto e eu ter uma queda por protagonistas irônicos. 

Droga, vocês me pegaram.

De qualquer maneira, uma coisa é certeira: manter um blog é menos cansativo do que conversar com seus pais sobre assuntos delicados, e eu tenho Simon Spier do meu lado para comprovar essa teoria. Fazer um estardalhaço se torna seu único objetivo a partir do momento que seu filho(a) nasce e isso é mais um motivo para o nosso Loverboy não contar para seus pais sobre sua sexualidade. 

Simon estava acostumado a enxergar a vida como uma peça de teatro na qual ele não era o protagonista, talvez o melhor amigo engraçado, mas isso muda quando ele começa a trocar e-mails com Blue, um anônimo da mesma escola que ele, mega fofo e que escreve muito, muito bem (sério, Simon revisa seus e-mails pelo menos duas vezes antes de enviar para se certificar que a gramática é digna o bastante). É incrível ver o jeito que com que o protagonista se apaixona pelo mundo através dos olhos de Blue. 

A trama descreve a estrada que Simon caminha durantes seus 16/17 anos de vida, principalmente depois de ser chantageado pelo Nerd Bobão identificado por Martin. O Martírio Abominável ameaça postar na rede social da escola uma captura de tela de um e-mail trocado entre Simon e Blue, que pode terminar com todo o relacionamento deles antes mesmo de ter começado, e em troca, o bobão quer a chance de conquistar o amor de uma das melhores amigas do Loverboy. Após devidamente chantageado, Simon se sente pronto para aquele dia de merda acabar. Mal sabe ele que outros virão.

O jeito comicamente desajeitado de Simon e sua insistência em dizer sempre a coisa mais virgem possível nos deixa bobos de amor, e esse romance delicado dos dois deu um tapa na minha cara. A construção da identidade, e dificuldade de Sair do Armário e se reapresentar para o seu universo diversas vezes mostra o quanto nós somos reféns da nossa própria zona de conforto, e que ser apto a mudanças não é nem um pouco simples, é só mais um motivo para fazerem outro estardalhaço. Por isso é tão comum se sentir preso dentro de si, e as vezes, parece que todos sabem quem você é, exceto você mesmo! 

A questão que o livro aborda não foca muito em como as pessoas te conhecem, na verdade. O caso é que querer se manifestar e agir de tal maneira causa um certo medo, e no fim do dia nós nos contemos. Talvez nós sejamos todos estranhos e talvez não queremos mudar.

A obra também aborda a insegurança quanto sua personalidade/sexualidade, e exemplifica de maneira sutil e clara que sentir-se seguro quanto a sua masculinidade não é a mesma coisa que ser hétero. Eu amei o fato de que o tema lida também com a crise de identidade, e o tanto que nos sentimos irrelevantes perante algumas situações que vida nos expõe. Mas as vezes algo dentro da gente muda, e talvez não queremos mais ser os mesmos. E aí vem mais estardalhaço.

Posso afirmar que após a leitura dessa obra linda e sensível, tive a certeza que as pessoas são como casas de quartos gigantes e janelas pequenas, e que continuar surpreendendo as pessoas é definitivamente uma coisa boa. Posso afirmar que a história me deixou com olhos estrelados, respiração presa e rindo como bêbada. Acho que me apaixonei um pouquinho por todos os personagens. Até pelo Martírio Abominável. Até por todas as frases soltas que Simon deixa. 

Além de perder a dignidade lendo este livro, algo que foi lindo de se ver, me perdi também em pensamentos enquanto escrevia essa resenha. O tanto que me identifiquei com a história não está disponível para ser comparado com nada deste plano, nada da mesma camada atmosférica! O livro é digno de estardalhaço, um imenso e incrível estardalhaço. 

Com amor,

Belli.

É uma caixa gigantesca cheia de constrangimento, e não vou fingir que anseio por esse dia. Mas provavelmente não seria o fim do mundo. Não para mim.