Juntando os Pedaços | Jennifer Niven

Menina boba,

O seu diferente era

O tempo todo

O seu mais lindo

- Atticus

Todos os pedacinhos desse livro são um ensinamento pra vida. Acho importante citar a incrível apelação ao estereótipo que essas 391 páginas trazem, e o reforço de como nós não temos controle sobre as lentes com que as outras pessoas escolhem nos olhar e interpretar.

Não sei vocês, mas a cada livro que eu leio eu tiro uma lição dele, e deste em particular não foi diferente. Sempre me preocupei demais em como eu parecia aos olhos alheios, e me policiei em aspectos que hoje me arrependo. É uma luta a cada dia, tanto para mim e para Libby Strout, quanto para você e para o Jack Masselin.

Libby Strout representa tudo aquilo que eu queria ser, mas tudo o que os outros enxergam é a Ex Adolescente Mais Gorda dos Estados Unidos Mas Ainda Muito Gorda. Após a morte de sua mãe, a Libby Imensa Por Dentro passou incontáveis dias dentro de sua própria casa lidando com seu pai em luto e seu sofrimento. Ansiedade, tristeza e medo são somente três dos tópicos ligados a compulsão alimentar e foi a partir daí que a balança apontou 226 quilos, e algum tempo depois, seu teto foi arrancado para que ela pudesse sair de casa. Literalmente.

Três anos depois e 125 quilos a menos, Libby voltou para escola determinada a arrasar! Iria aprender a dirigir, dar uns beijos em alguns carinhas, fazer amizades maravilhosas e emagrecer mais alguns quilos em maratonas de sexo. Libby rainha, o resto nadinha. Pena que o que ela encontra são olhares tortos, piadas, bilhetes maldosos e o Rodeio das Gordas.

Muito gorda para ser linda, dançarina, amada ou respeitada. Só que as Pessoas Pequenas (por dentro) não aguentam o fato de alguém ser grande, e é assim que muita gente enxerga muita gente. Exceto Jack Masselin, ele não enxerga ninguém. Quer dizer, mais ou menos. Olha, é complicado, ok? De qualquer maneira, a vida é curta demais pra você fingir não ser magnífica.

Mass tem Prosopagnosia (eu sei, também não achava que isso existia de verdade), uma doença que impede seu cérebro de juntar todas as informações de um rosto e formar uma imagem em sua cabeça. Ninguém sabe. Isso é um saco. Mais saco que isso é ter que fingir ser um merda para que todos relevem o fato de que você jamais se lembrará de ninguém. Quer dizer, quase ninguém.

O garoto tem estilo, língua afiada, abraço apertado, por fora ostenta um cabelo crespo gigante e pele marrom bombom bem da cor do pecado. Por dentro ele é um cara que gosta de desmontar objetos e reconstruí-los e queria pode fazer isso com ele mesmo. Mass também é um outsider missunderstood, e tudo o que eu sinto é vontade de dar um abraço e sussurrar que tudo vai ficar bem, mas por mais que dê vontade, não podemos lutar a batalha por outras pessoas. Mais uma lição que o livro ensina.

A quantidade de merda que o livro aborda é incrível também, a maneira com que nós somos escrotos enquanto tratamos os outros e usamos como desculpa a autodefesa pra ser mais merda ainda! Vocês também ficam putos com isso? É uma merda. E quando você percebe, você está quase se esforçando pra se encolher, como se conseguisse se concentrar o suficiente e ficar do tamanho dos outros. É quando o Jack entra na história.

Jack esteve presenta na trajetória de Libby desde sempre e nenhum dos dois sabia como proceder a este fato. Ela tinha cheiro de sol e ele tinha gosto de alegria. Confiança, respeito, mãos dadas e coração acelerado. Danças e várias primeiras experiências. Esse livro é único.

A amizade desenvolvida entre os dois na metade do livro é enorme! Um carinho mútuo que fez meu coração de criança sair do quarto e ir pular amarelinha na rua, pisar em poças de água e ver tudo fazendo splash. Óbvio que um romance se inicia, e não poderia ser melhor. Dessa vez, meu coração (e os dos dois protagonistas) nem no planeta fica mais, vai até a lua e recolhe umas estrelas no caminho.

É como se tudo d e s a c e l e r a s s e. 
E parasse. Quão incrível é encontrar alguém que quer saber tudo o que se passa em sua cabeça? Me diz.